Mostrando postagens com marcador vale do quilombo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador vale do quilombo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 5 de junho de 2014

No âmago do Vale do Quilombo


Base da Cascata do Trombão

Gosto de explorar um lugar novo, desconhecido e recentemente participei de uma caminhada pelo interior do Vale do Quilombo, partindo do Ecoparque Sperry, com um grupo de amigos e interessados inseridos no programa Ecoparque Explorer. Logo me vi na base da Cascata do Trombão, um lugar intrigante, sombrio e com um barulho de água caindo que abafa até os pensamentos mais profundos. O local remoto é um refúgio natural de fauna e com uma flora praticamente intocada. Dentro do mini cânion, moldado pela força da água ao longo dos milênios, segui o grupo pelo leito do arroio com suas águas cristalinas e de temperatura agradável. 

Leito do Arroio Trombão

Rochas de todos os tamanhos pavimentam o caminho abraçadas por cipós e raízes de diversas espécies de arbustos e árvores. Nas cheias do inverno árvores e arbustos são arrancados, triturados e jogada para frente, formando depósitos impressionantes de material de todos os tipos, tamanhos e texturas. Estes mesmos depósitos, juntos com as pedras, vão formando anteparos que mudam o curso do arroio e o fazem lamber a outra margem, cavando e arrancando outras árvores. É a dinâmica do leito do arroio. Natural como a chuva e o vento. Isso torna a caminhada interessante devido a diversidade de locais, formas e quadros naturais formados ao longo do percurso.

Encontro dos arroios Trombão com o Quilombo

Chego no ponto onde o Arroio Trombão deságua no Arroio Quilombo formando um local ideal para banho. Com água pelas canelas e desviando de pedras lisas, sigo o leito do Quilombo através de belíssimos lajeados cobertos pelas copas das árvores altas permitindo uma caminhada tranquila pelo leito rochoso emoldurado por bromélias floridas, figueira gigantes exibindo suas raízes tabulares e muitas espécies de samambaias e musgos cobrindo barrancos, troncos, raízes e rochas.



Toca dos Bugres, com a cachoeira à esquerda


A caminhada pelo leito é interrompida no topo da Cachoeira da Toca dos Bugres. A visão é espetacular pela altura e arrojo da água a quase trinta metros abaixo, formando degraus no leito que atiram as águas em um poço escuro abaixo. Todos deslumbrados, apreciam a seu modo o lugar. Sentados olhando, andando e fotografando, conversando.... A esquerda visualizo a entrada da grande gruta dos bugres. Contornando pela esquerda, chego a base da cachoeira e assomo a caverna ampla, alta na boca, como uns dez metros de altura e vai morrendo em zero como uma cunha de ar que abriu a pedra e formou um abrigo natural. 

Cachoeira da Toca dos Bugres, Arroio Quilombo

A cachoeira da Toca dos Bugres vista de baixo  é espetacular. Os degraus bem visíveis tornam o visual ainda mais impressionante, espalhando a água branca por fios e cascatas de vários tamanhos e volumes. Um lugar realmente diferenciado e digno de uma jornada de reconhecimento, feito aqui pela equipe do Ecoparque Sperry, e que não deixa outras sequelas que não a de roupas e botas molhas e embarradas, daquele jeito que, quando em casa, dá vontade de não lavar e deixar como recordação de um dia muito especial. Sem falar na ânsia de descarregar as imagens no notebook e apreciar o dia transcorrido. 

domingo, 1 de junho de 2014

Cogumelos, conhecimento e culinária.




Suillus luteus, comestível.
Ver um cogumelo qualquer em um campo ou sobre um tronco morto de alguma árvore é ver apenas a ponta de um processo muito complexo e invisível. Na verdade o cogumelo é apenas uma fase da vida de um fungo que vive sobre a matéria orgânica morta. Os fungos tem um corpos longos, ramificados como raízes, esbranquiçados, quase sempre invisíveis e são um dos maiores responsáveis pela reciclagem da matéria orgânica nos solos do planeta.
Infiltram-se nos tecidos mortos de plantas e os digerem lentamente, transformando troncos, galhos, folhas, etc. em produtos reutilizáveis por outros organismos do mesmo ambiente. Fazem um trabalho silencioso e importantíssimo sob a óptica da sustentabilidade da vida na terra.

Quando estão bem desenvolvidos e as condições externas são favoráveis, eles enviam ao exterior os responsáveis pela liberação dos esporos, as micro estruturas que, como as sementes de plantas que conhecemos, tem a capacidade de formarem novos fungos em novos lugares. Assim surgem os cogumelos, ou “chapéus de cobra”, como são popularmente conhecidos. Nesta hora os fungos do solo se tornam visíveis e nos permitem a sua identificação.

Auricularia sp - comestível
Sendo a maioria desconhecidos completamente pela população, paradoxalmente eles encantam e causam apreensão nas pessoas. O desconhecido sempre é encarado com desconfiança e é assim com os cogumelos também. Não temos aqui no Brasil o bom hábito de colher cogumelos silvestres e transformá-los em ricas refeições nutritivas e saudáveis. Na Europa é recorrente o hábito de nos outonos as pessoas seguirem para bosques e campos atrás destas iguarias. Eles conhecem os bons para a mesa e os impróprios. Está no comportamento dos povos. Aqui ainda não desenvolvemos este hábito, com poucas exceções, apesar te termos em nossos ambientes de matas e campos, uma riquíssima variedade de espécies próprias para consumo humano. Neste outono já fiz vários pratos com pelo menos três espécies de cogumelos que coletei aqui no sítio onde moro, no Vale do Quilombo. Basta uma volta pelas matas e uma cesta para acomodá-los e preparar uma refeição completa. Vale a pena investir em um pouco de conhecimento sobre este assunto porque pode muito bem nos trazer grande satisfação à mesa, além de se um produto essencialmente natural e colhido direto da natureza, sem problemas de contaminação por agrotóxicos ou outros elementos químicos.


Lactarius deliciosus - comestível.
Preste mais atenção em suas caminhadas neste outono e perceba a variedade de cogumelos que surgem em todos os lugares. Informe-se em guias de identificação com fotos ou com algum especialista e não deixe de experimentar esta iguaria que tem gosto de natureza. A foto ao lado é de um Lactarius deliciosus, nome científico porque não tem um popular ainda, de um dos mais saborosos cogumelos que nesta época estão por toda parte onde tenha pinus, sua árvore favorita para compartilhar o seu modo de vida. 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Dia de chuva


Dia de chuva no Sítio Pangaré, no Vale do Quilombo em Canela RS

Amanheceu batendo água. O dia custou um pouco mais para clarear e o chimarrão saiu um pouco mais tarde. A cama parecia ter cola e as cobertas queriam me amarrar a ela. Saí para a área da frente da casa e vi o chão todo molhado, apesar do beiral que faz a extensão do telhado. Foi uma chuva ”tocada a vento” com se fala.
Com o chimarrão na mão, da minha área fiquei observando a fauna. Parece que apenas a espécie humana não curte se molhar nestes dias. Absolutamente indiferentes à chuva que caía, um bando de rolinha-roxa disputava alimentos no gramado, junto com canários-da-terra. Os tico-ticos e suiriris ficavam aguardando os cupins de asa saírem do chão, para caçá-los no ar. Chuva? Que chuva, a fome é maior e as aves são indiferentes ao fenômeno. Eu, na área evitando me molhar. Fui para o outro lado da casa, que dá para o pomar. Lá o sanhaçu-cinzento, a saíra-preciosa, o tucano-do-bico-verde e alguns sabiás-laranjeira escolhiam os caquis maduros. Chuva? Que chuva, alimentar-se é mais importante. 

Chuva intensa no Ecoparque Sperry em fevereiro de 2013

As aves impermeabilizam suas penas com um óleo que produzem  numa glândula na base da cauda (uropigial), conhecida popularmente como “sobre”, e assim ficam como se  estivessem com uma capa de chuva.
Olhando para o morro do laje de Pedra, vi que subia uma coluna de cerração em direção a zona urbana de Canela. Daqui do Vale do Quilombo é possível ver a formação deste fenômeno natural que tanto aborrece os moradores de Canela e Gramado.  Neste local, 400 metros abaixo do centro de Canela, a cerração fica acima de mim, deixando os transtornos de visibilidade quase zero lá para o centro da cidade.
A chuva mansa continuou pelo dia todo e parecia que a terra agradecia absorvendo o líquido de forma lenta e silenciosa e devolvendo a gentileza através das plantas que crescem com vigor e trazem sustento para a fauna. O excesso de água rola pelos declives e vai se juntar a algum arroio próximo, como um complexo sistema de veias de um grande organismo que acaba levando o líquido para o oceano. O mar é o verdadeiro coração do planeta que recebe a água dos rios e a devolve sob a forma de chuva aos continetes.
O peso das gotas vai encharcando folhas e troncos fazendo com que os galhos se projetem para baixo, como que se quisessem tocar o solo ou se curvando em agradecimento pelo precioso líquido que estão recebendo. Um pouco de vento e o peso dos galhos é aliviado pela expulsão do excesso de água, fazendo parecer que está chovendo mais forte.

Cachoeira da Usina cheia após uma chuva forte (Ecoparque Sperry)

O brilho das folhas em dia de chuva é mais pálido e discreto do que quando o sol está brilhando, talvez como uma deferência ao astro rei que traz a energia necessária para a base da vida na terra – a luz, que junto com a água e o carbono, permitem a produção de alimentos e energia (fotossíntese), vital a toda a vida no planeta. Sol e chuva vão dando as regras para a vida e, visto assim, a chuva é tão boa e necessária quanto o sol. Portanto, dia de chuva é bom, basta mudarmos nosso ponto de vista. Devíamos tomar mais banhos de chuva porque faz muito bem e nos aproxima mais da natureza. 

Um sanhaçu-cinzento comendo banana durante chuva forte.

domingo, 15 de maio de 2011

As cores do outono na Serra Gaúcha


Na estrada da Linha 28, Vale do Quilombo, formou-se esta paisagem matinal com um pouco de sol e neblina ao fundo. A árvore grande a esquerda é uma corticeira-da-serra e está ladeada por liquidambers em fase outonal, com suas folhas morrendo e mudando de cor até cairem completamente. A paisagem é magnífica.


No mesmo local, um detalhe dos matizes de cores que se formam em árvores próximas. É a natureza nos mostrando que o frio está chegando e que as plantas e animais estão se preparando para encará-lo. Nós com muito fogo na lareira, pinhão,  vinho e cobertor de orelhas.

quarta-feira, 30 de março de 2011

A grande lua cheia de março de 2011.

Lua cheia no Vale do Quilombo entre Canela e Gramado - RS


A lua sempre fascinou os homens, seja devido ao seu ciclo de luz e sombras, seja pelas histórias fantásticas que habitam o imaginário dos povos ou pelas crenças e rituais que se desenvolvem em seu entorno. No dia 19 de março de 2011 tivemos uma oportunidade de ver um  destes ciclos místicos e encantador deste satélite natural do planeta terra.

Neste ano a lua aparece maior porque está mais próxima da terra cerca de 4.000 km, e isto a amplia em cerca de 12%, fenômeno conhecido como perigeo. Este fato é devido a forma elíptica da órbita  da lua  e neste ano coincidiu de a lua estar no ponto mais próximo  da terra justamente na fase cheia. Isto que está fazendo o espetáculo. Além do tamanho e da luminosidade maior, o outro fenômeno que poderá ser visto é um ligeiro aumento nas marés, mas nada a nível catastrófico.
Lua cheia em Osório, litoral do Rio Grande do Sul, 

No domingo, 20 de março, há outro fenômeno natural que poderá ser sentido. É o Equinócio do outono que significa que nesta data o dia tem exatamente o mesmo número de horas da noite, ou seja, 12 h de sol e 12 h de escuridão, que só não é maior porque coincidiu com  o fenômeno do Perigeo . Isto marca o final do verão e início do outono. Daqui para diante, os dias vão encurtando e as noites aumentando até chegarmos no inverno. É a dinâmica da lua regulando estações e comportamentos aqui na terra. Tudo interligado e interdependente.