A profundidade da vossoroca aberta há anos neste local, único acesso a parte alta do cânion (Rampa Sul), mostra o despreparo das autoridades competentes com as áreas naturais. Atitudes mínimas dos funcionários, com desvios de água, criação de um pavimento e proteção da vegetação são ações que devem ser efetuadas regularmente pelos responsáveis por manterem a área aberta a visitação.
Infelizmente utilizo este parque para fazer um exercício prático de como não se deve fazer certas coisas em parques. O constrangimento e a indignação das pessoas que tem que desviar de buracos e pedras para evitar acidentes só não é maior devido ao encantamento com a paisagem que vem em seguida.
Ensino sempre em aula que quando uma área não tem condições de receber visitante, devido a falta de estrutura para minimizar os impactos, ela deve ficar fechada ao público até os problemas serem resolvidos. Na foto acima outro exemplo de problema. Uma trilha mais antiga (no centro da foto) ficou tão erodida e profunda, devido a falta de manutenção, que ficou inviável utilizá-la. A solução encontrada não foi a de resolver o problema desta trilha, mas abriu-se uma nova ao lado (na esquerda da foto). Ou seja, criou-se um novo foco de problema que terminará com mais um sulco intransitável.
Felizmente pude ver algumas ações mínimas visando reduzir impactos, como esta singela passarela sobre a água de uma nascente que escorre para o vale no início da trilha principal. O mesmo foi feito na trilha que vai a Pedra do Segredo. Como falei anteriormente, são ações que podem fazer grande diferença entre ter uma área impactada e uma conservada, mantendo-se sempre a visitação. De quem é a culpa? O que devo dizer aos meus alunos? O Governo Federal, dito proprietário da área, deve responder a isso? Por que o parque não é fechado a visitação para construção de uma infra estrutura mínima que atenda os princípios de conservação de um bem público? Gostaria de utilizar este parque como exemplo de mínimo impacto, mas infelizmente o tenho utilizado para exemplificar o contrário.
O que salva a viagem, porque nem falei das péssimas condições da estrada entre Cambará e o parque, é o visual do cânion e seus elementos naturais de incomparável beleza, paz, energia e uma indescritível harmonia entre o elemento humano com a natureza.
Poder andar e ver o elemento natural com mais de 1000 metros de altura, de pura rocha vulcânica de um passado muito distante, compensa qualquer esforço e me remete aos meus tempos de estudante de Biologia da PUC que, com um grupo de colegas, fazíamos o percurso de Cambará do Sul ao cânion Fortaleza a pé, com mochilas pesando 25 kg cada uma. E era uma festa. Espero que meus filho e os filhos deles possam compartilhar daquilo que vi e vejo ainda hoje, apesar dos inúmeros esforços das autoridades em tornar o local impactado e digno de uma interdição.
Não há muitos lugares no mundo, hoje em dia, que se possa desfrutar das águas límpidas de um arroio com o do Segredo, além de todo o deslumbramento da Cachoeira do Tigre Preto (foto acima). Locais imperdíveis do Parque Nacional da Serra Geral. Vamos salvar esta área da erosão e da destruição progressiva dos elementos naturais que temos visto. Este é um patrimonio de todos!