Vou me solidarizar com um animal que é mais conhecido
pelo que causa aos nossos cães do que ele propriamente dito. Trata-se do
ouriço-cacheiro, também conhecido como porco-espinho (Coendou villosus). Sempre lemos notícias ou
ouvimos comentários de que um ouriço atacou um cão e o encheu de espinhos.
Primeiro que o ouriço não ataca, uma vez que é um roedor
lento, não agressivo e que vive em cima das árvores (arborícola). O que
acontece é que na cidade as matas são poucas,
resumindo-se a algum quintal ou praça arborizada. Como o ouriço
alimenta-se de folhas e frutos, ele tem que estar constantemente em busca de
seu alimento andando de árvore em árvore. Nas matas de grande porte, ele raramente desce ao solo deslocando-se sempre de galho em galho, como os bugios e
macacos-prego. Com as árvores longes umas das outras, na cidade, ele obriga-se
a descer ao solo para passar de uma para outra. Pois é neste momento que os
nossos cães entram na história. Como o que não falta na cidade é cachorro, logo
algum vai farejar o pobre e lento roedor e instintivamente tenta mordê-lo. Rápida
e dolorosamente, aprende que este é um bicho a ser deixado em paz.
Deste ponto
em diante, só se fala no cão que algumas vezes morre devido ao grande número de
espinhos que entram na sua pele e até na boca.
Poucos são os que se preocupam com o pobre do ouriço, um roedor nativo
das Américas Central e do Sul e que
apenas tenta sobreviver nas zonas urbanas mais arborizadas.
Raros são os que
se salvam, e a perda não é lamentada. Devíamos pensar um pouco na eliminação
progressiva e quase inevitável que os nossos cães e gatos domésticos promovem
sobre a fauna nativa. Gatos e cães são animais não nativos da América (são exóticos)
e se, fora de controle, podem trazer sérios prejuízos à fauna local. Manter
nossos animais domésticos bem tratados e cercados, impedidos de predarem
pequenas aves (gatos) ou ouriços, é uma obrigação mínima dos donos.
Um brinde ao ouriço-cacheiro, valente sobrevivente das nossas
já escassas florestas.