domingo, 30 de dezembro de 2012

A lua, seus ciclos e os seus efeitos.







A natureza é pródiga em ciclos antagônicos de toda ordem, como dia e noite, inverno e verão, era do gelo e era atual, chuva e sol, ventos e calmarias, vulcanismo e erosão da crosta da terra, maré alta e maré baixa. Há fenômenos que se repetem com intervalos longos de centenas ou milhares de anos, como as glaciações. Outros são mais curtos como os que marcam as estações do ano ou o  dia e a noite.

Lua na fase minguante parecendo esta "pinçada" por galhos de uma uva-do-japão.

As fases da lua são as que talvez mais intrigam e encantam as pessoas devido aos seus mistérios e fenômenos que elas desencadeiam. Todos conhecem a luz de “fazer sombra” criada nas noites de lua cheia ou as noites de completa escuridão na fase nova de “não se enxerga um dedo a frente”. Outro fenômeno interessante são as marés vazantes, que são provocadas quando a massa da lua soma-se com a do sol provocando uma “sucção” da água do mar, fazendo com que na praia haja um recuo considerável do mar, maior em alguns lugares do planeta e menor em outros dependendo da topografia da praia.
As fases da lua também intersedem no crescimento das plantas fazendo com que os agricultores mais observadores cultivem aquilo que dá em baixo da terra, como tubérculos e raízes, na lua minguante e aquelas que produzem folhagens, como alface e repolho, nas luas crescente e cheia. Fazer uma caminhada pelo campo em noite de lua cheia é um espetáculo raro e que nos deixa marcados. A pouca luz cria uma paisagem em preto e branco onde tudo assume tons de cinza e nos faz perceber como deve ser a visão de um cão ou de um gato, que enxergam bem a noite e em preto e branco. Dentro de uma mata de araucárias (foto), a lua cheia pode compor um cenário que faz as copas das árvores parecerem aranha no ar.

Lua cheia vista de dentro de uma mata de araucárias

Estamos caminhando para um novo ciclo que deve iniciar em 1 de janeiro e vamos repetir tudo no ano que vem. Dias e noites, verão e inverno, lua cheia e nova, e outros ciclos mais longos que poderão ter seu pico durante este período. É o que disseram os Maias no seu calendário tão famoso e controverso. Se vocês estão lendo este é porque o mundo não acabou e isso é bom. Fracassou mais uma tentativa de acabarem com a nossa casa e seus ciclos. Ou não....

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O lagarto teiú e o inverno

O lagarto teiú e o inverno

Durante todo o inverno aqui em Canela e região, não vemos sequer um lagarto andando pelos jardins ou parques. Neste período de frio extremo eles se metem em tocas onde a variação da temperatura é muito menor do que no ambiente externo e assim atravessam o inverno numa espécie de torpor, onde suas atividades vitais se reduzem muito e permitem que o animal sobreviva três ou quatro meses de frio em um estado de sono profundo.
No início da primavera eles aparecem com relativa frequência e começam a vagar pelos pátios, praças e áreas rurais. Estão muito magros devido ao consumo das energias acumuladas no inverno dentro da toca. Neste período eles comem praticamente tudo que se movimenta e tenha um tamanho que possa ser apanhado e engolido, como insetos, aranhas, ovos de ninhos feitos no chão, como o quero-quero, filhotes e mesmo aves adultas, frutos, etc. Em seguida acasalam e um tempo depois as fêmeas colocam seus ovos em tocas. No final do outono começam a procurar tocas para se prepararem para um novo período de frio e sono profundo.

Dentre as espécies mais comuns de lagartos que circulam por aqui está o Teiú, ou Papo-amarelo, na foto maior, considerado o maior lagarto brasileiro e que habita praticamente todos os ambientes do País. Olhando o atentamente sua cabeça (foto em detalhe), podemos observar atrás do olho o tímpano, que nestes répteis é externo. Sim, o teiú não tem orelhas como os mamíferos e desta forma seus tímpano ficam expostos e visíveis nas laterais da cabeça.  Sua língua é bipartida (em forma de V) como as serpentes e serve para o lagarto “cheirar” substâncias químicas existentes no ar. 

Na foto maior vemos a cauda do teiú com uma cor diferente. Isto indica que ela já foi perdida e se regenerou. Os lagartos tem um mecanismo que libera sua cauda (autotomia) quando um predador o tenta apanhar, regenerando-se em seguida. Época de lagartos, época de calor. 




segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O trabalho silencioso da fauna na floresta de araucárias




Do início do outono até o final de julho, nos habituamos a ver nos pátios, praças e parques com araucárias, os pinhões maduros no chão. O que não é tão visível é a presença de um verdadeiro exército de animais nativos que, além de se alimentarem ativamente desta semente, espalham-nas para áreas distantes (dispersão). Uma lista de espécie de aves e mamíferos, alguns conhecidos e outros nem tanto, fazem este trabalho silencioso e permanente que vai garantir o surgimento de uma nova geração de araucárias.

Cutia comendo sementes

Cutia, gralha-azul, papagaio-peito-roxo, serelepe (esquilo), roedores pequenos, bugios e tiribas são alguns dos representantes da fauna nativa que de alguma forma contribui para o “plantio “ dos pinheiros. Dentre todos estes, destacamos a cutia, um roedor nativo da América do Sul que vive associado sempre as matas, local onde encontra seu alimento (frutos, sementes, raízes e talos de plantas), abrigo e local para ninho. Como um hábito de previdência, a cutia enche a boca com vários pinhões e sai enterrando um a um, de forma aleatória pela redondeza. 

Cutia comendo um pinhão

Com o passar do tempo ela volta e os desenterra para se alimentar. Neste processo, muitos pinhões germinam antes da cutia voltar, e assim novas árvores surgem todos os anos para garantir as gerações futuras mais e mais pinhões. Mais do que a gralha-azul, a cutia é a grande responsável pela regeneração natural das araucárias. Uma saudação especial às cutias pelo seu "trabalho" na regeneração das matas de araucárias.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O quati




O quati (Nasua narica) é uma espécie de mamífero carnívoro nativo da América do Sul e  tem hábitos diurnos, o que o torna familiar em alguns lugares, principalmente em parques e condomínios aqui de Canela RS e na região. Seu nome deriva do Tupi cuá (cintura) e tim (nariz) = cuatim ou cuati, e tem relação com o hábito destes animais dormirem com o focinho acomodado na região da cintura, como fazem os cães quando estão com frio. 

Tenho observado alguns lugares em que estes carnívoros são alimentados, ou por ação voluntária de donos de parques ou por ação involuntária quando restos de alimentos são colocados em lixeiras de condomínios e casas próximos a áreas florestadas. Este hábito altera o comportamento destes animais e os tornam dependentes do alimento oferecido, criando vícios que podem levá-los a disputas ferozes entre si e mesmo tornarem-se agressivos com as pessoas. Parques nacionais, como o da Foz do Iguaçu têm problemas com os quatis que “abordam” os turistas em busca de alimento. Eu testemunhei neste parque uma vara de quatis invadirem mesas do restaurante de um hotel, que fica dentro deste parque, derrubando copos, virando e pisoteando pratos atrás de comida, criando pânico entre os clientes.




Melhor é observá-los em seu ambiente natural, onde podemos ver a grande habilidade que eles têm para subirem e descerem árvores de se deslocarem no chão da mata em bando de dezenas de indivíduos. Alimentam-se de frutos, sementes, insetos, aranhas, anfíbios, lagartixas, roedores e filhotes de ave.

No popular, dizer que alguém “está com um quati” significa que a pessoa é preguiçosa, dorme muito. Isto é uma alusão ao hábito que estes animais têm de dormirem várias vezes durante o dia sonos curtos de descanso. Por isso os folgados ganharam a alcunha que até hoje é aplicada. 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O vento e os pinhões


O vento e os pinhões

Você pode estar se perguntando qual a relação entre o vento e os pinhões, sugerida no título da coluna. Pois digo que tem tudo a ver. Explico: a araucária é uma espécie de pinheiro que tem, entre outras características, os sexos separados, ou seja, existem árvores masculinas e árvores femininas. Cada uma tem suas flores e seus gametas. O pinheiro masculino tem uma pinha alongada semelhante a uma banana e se chama mingote. Nela são produzidos os gametas masculinos, o equivalente aos espermatozoides dos animais. O pinheiro feminino tem uma pinha arredondada onde estão as flores com os óvulos. Como estas flores não produzem néctar e não tem pétalas coloridas para atrair insetos como as plantas superiores, elas dependem de um agente externo para “trazer” o gameta do pinheiro masculino e assim fecundar os seus óvulos. Só assim teremos pinhões na próxima safra de outono. Pois este “agente” externo é justamente o vento, que soprando na primavera, faz sacudir os mingotes maduros que espalham os gametas pelo ar numa nuvem de pó amarelo-claro, que caem sobre as flores de árvores femininas fecundando-as.
Esta é uma das razões porque a mata de araucária forma densos agrupamentos de indivíduos em grandes extensões, pois quanto mais próximas as árvores, maior a chance de haver fecundação e produção de sementes, que são os pinhões. Pinheiros fêmeas isolados por grandes distâncias dos machos, não produzem sequer um pinhão. Quando eu cursava Biologia na PUC um amigo me levou a sua casa, em Porto Alegre, para ver uma araucária adulta de uns 50 anos que produzia pinhas grandes mas sem nenhum pinhão, somente falhas (aqueles lâminas achatadas que ficam entre os pinhões da pinha). Aquela araucária havia sido plantada pelo avô dele e era a única no terreno e do bairro. Disse ao meu amigo que ele não teria pinhões a menos que plantasse outras araucárias para ter machos e fêmeas juntos.
Um equívoco relativamente comum é chamar o pinhão de fruto. Na verdade o pinhão é uma semente e os pinheiros, por uma questão evolutiva, não produzem frutos, um atributo exclusivo das plantas superiores, como a goiaba, a jabuticaba ou os ipês. Uma boa safra de pinhões depende de vários fatores ambientais, sendo o vento um dos principais. Salve os ventos da primavera!

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A guabiroba e o gosto da infância




A guabiroba

N
esta época do ano, durante a minha infância aqui em Canela, saíamos atrás de locais previamente conhecidos no Morro da Cruz, aqui no centro da cidade e que, na época, era um mato fechado onde encontrávamos guabirobeiras lotadas de frutos maduros. Conhecíamos a localização exata das árvores em um mapa mental e reconhecíamos cada uma pela sua forma e facilidade para subir. Algumas mais fáceis outras impossíveis. Estas lembranças da infância estão sendo reavivado aqui onde trabalho atualmente, no Ecoparque Sperry, pela existência de inúmeras guabirobeiras que já começam oferecer seus frutos maduros.
Uma das guabirobeiras mais antigas que conheço fica na parte da frente do terreno onde mora minha amiga Cátia Selbach, ali perto da Vila Maggi. É tanta fruta que chega “amarelar” o gramado.  A guabiroba é muito apreciada pelas aves, que a consomem avidamente e, sendo a sementes pequenas e duras o suficiente para resistir aos sucos digestivos, são eliminadas com os excrementos em locais distantes da árvore-mãe. Assim as aves se alimentam da guabiroba e espalham as sementes ao acaso em novos ambientes, garantindo a germinação de algumas novas guabirobeiras.
Lembranças de um passado que agora retornam sob a forma de sabor, aroma e prazer em consumir uma fruta nativa colhida no pé, muito saborosa e de gosto intrigante. Prove uma guabiroba, você vai descobrir um sabor único, peculiar e que jamais será esquecido!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O lado Uruguaio da Lagoa Mirim.


A Lagoa Mirim faz uma parte da fronteira entre o Brasil e o Uruguai, no sul do Rio Grande do Sul. As praias das fotos são do lado Uruguaio, ao sul de Rio Branco (fronteira com Jaguarão). Suas águas fluem para a Laguna dos Patos através do Canal de São Gonçalo, em Pelotas e daí para o mar.
É uma lagoa muito rasa, com dois a cinco metros de profundidade, forma inúmeras praias arenosas e pontais, próprios para estações de verão, pesca e lazer.

Com a seca do último outono, a margem da Lagoa Mirim aumentou bastante, expondo áreas que normalmente ficam submersas. É abastecida pelas águas de vários rios e arroios, sendo o rio Jaguarão e o Piratini os mais importantes pelo lado brasileiro.

Pescadores uruguaios e seus barcos coloridos fazem uma composição com o água e os juncos da margem.

Com as águas recuadas devido a seca, observa-se conchas de várias espécies de moluscos, como o Aruá -do-banhado (Pomacea canaliculata), um caracol que serve de alimento para o gavião-caramujeiro.

Flagrante de um gavião-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis) macho com um aruá recém capturado sendo levado no bico. Ele vai até um poleiro (poste, árvores ou estaca) e retira da concha o molusco, seu alimento preferido.

domingo, 15 de abril de 2012

O bugio ruivo no Ecoparque

 O bugio ruivo (Alouatta guariba clamitans) é o maior primata que ocorre no rio Grande do Sul. Vive em grupos familiares de cinco ou mais indivíduos e são herbívoros e eventualmente frugívoros em sua dieta.

 Estes ruivos eu registrei no Ecoparque Sperry, na Trilha Tangará aqui em Canela RS, e estavam sobre uma canjerana, árvore que produz frutos com sementes comestíveis.


O fruto da canjerana (Cabralea canjerana) com suas sementes que serve eventualmente  de alimento aos ruivos. No outono elas amadurecem e se tornam disponíveis a fauna. 

Outra frutífera de início de outono é o bacopari  da foto acima (Garcinia gardneriana), cujos frutos tem uma polpa doce e é muito utilizada como alimento pela fauna em geral, inclusive pelos ruivos. 

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Água em movimento. Espetáculo de vários ângulos.

Água em movimento e a busca de um ângulo pouco comum. O resultado é uma visão diferente do mesmo tema. A Cachoeira da Usina, no Ecoparque Sperry - Canela RS, permite uma aproximação por detrás da cortina de  água, onde me posicionei para esta e a foto seguinte. Na foto acima esperei e enquadrei o sol acima da queda, para criar o efeito de brilho intenso.


Aqui abaixei um pouco o ângulo da foto para enquadrar o Vale do Quilombo ao fundo, como elemento participante da paisagem. Exposição correta permite o efeito de gota alongada da água.

Outro ocasião passei por um paredão rochoso que vertia uma água pela encosta. Posicionei a câmera com o tripé, aguardei o sol iluminar a água e dei uma exposição prolongada para criar este efeito de "fio de seda" nas gotas. Somente alguns poucos minutos do dia permitem esta foto devido a incidência do sol na água ser muito curta.

A Cachoeira do Poço, no Arroio Quilombo, permite fotos interessantes nas várias horas do dia. Nesta acima, o céu nublado abranda as luzes e cria uma tonalidade mais suave na água, que recebe o reflexo do verde da vegetação exuberante do entorno.

Lua cheia e crepúsculo: fenômenos que me despertam idéias.

Por de sol e lua cheia na mesma hora do dia somente nos primeiros dias de lua cheia. Estas fotos  fiz no dia 6 de abril de 2012 e foi possível assistir o crepúsculo e, virando para leste, ver o nascer da lua.

Como ainda tinha luz do sol, foi possível ver detalhes da paisagem, no caso prédios e antenas de Porto Alegre. Imagem muito inspiradora.

Outra lua cheia muito interessante registrei no Morro da Borússia, Osório - RS em 19 de março de 2011. A visão da cidade é possível devido ainda ter um pouco de luz do sol, o que cria uma imagem meio surreal. Lagoas, auto-estrada e ao fundo o litoral, no caso Tramandaí.

Na praia de Itapirubá, em fevereiro de 2012, fiz este registro da lua cheia tendo como cenário o mar com uma pequena ilha com farol. A direita uma moldura de casuarina ajudou muito na composição.