sexta-feira, 4 de abril de 2014

As dunas, a vegetação e a resilência






As dunas do nosso litoral, também conhecidas por cômoros, são aquelas pequenas elevações formadas de areias brancas que se acomodam entre o mar e as primeiras ruas e casas das praias do nosso retilíneo e tedioso litoral. Esta areia vem da praia, de dentro do mar e é empurrada para fora pela água. Na sequencia, o vento seca e empurra os grãos para o continente e vai acumulando em montículos que vão crescendo e se transformando em dunas. Quando o vento muda de direção, assopra a areia de volta para o mar e assim as dunas crescem e decrescem de tamanho, mudam sua forma e posição constituindo-se em verdadeiras montanhas moveis. Um dia aqui, outro invadindo ruas e casas (na verdade estes últimos é que invadiram o espaço delas), sempre ao sabor do vento.

Sobre estas dunas costeiras moveis existe uma vegetação que tem grande capacidade de sobreviver a estas mudanças constantes na forma e posição das areias. Um dia podem ser vistas espalhadas por cima da duna e pouco depois, enterradas alguns centímetros abaixo para logo mais estarem novamente no topo. Elas sofrem a pressão da areia, ficam no escuro, se deformam e assim que ficam livres, reconstituem sua forma e seguem a vida. Resiliência é a palavra que define esta capacidade que as plantas tem de sofrerem reveses constantes, se recuperarem e continuarem vivas. As plantas são assim permitindo que as comparemos com algumas situações da vida diária.
Quantas vezes somos soterrados por problemas aparentemente insolúveis e, de repente, a areia é soprada de cima de nós e o sol brilha novamente vindo com ele as soluções e a vida segue. Assim como uma planta das dunas é dobrada, amassada e coberta pelo peso da areia durante um tempo, ressurgindo depois, nós também somos submetidos a períodos de um aparente estado de impotência e opressão quando nada parece dar certo. Devemos aprender a ter a paciência e a resiliência das plantas de dunas, por que uma hora ou outra a areia vai sair de cima e vamos reassumir nossa postura anterior mais fortes e mais preparados para o próximo embate.


A resiliência é esta grande capacidade que nos foi dada para resistirmos a ações do meio ambiente e, por extensão, também das complexas relações sociais a que somos submetidos.  O que devemos fazer é aguardar o vento assoprar a areia e nos desenterrar para vermos que as soluções existem e chegam sempre na sua hora, assim como o vento na praia. A nossa areia são os nossos problemas diários que muitas vezes nos sufocam a ponto de acharmos que não sairemos mais debaixo deles. Mas sempre tem um vento para movê-los para outro lado, ou para cima de outros. Mesmo sabendo que eles vão voltar, temos um tempo para crescer e aprender, o que vai nos tornado mais fortes. Somos como plantas de dunas, vivendo em um mundo instável que constantemente nos submete a provações de todos os tipos, e neste cenário complexo resistem mais aqueles que compreendem isso e aguardam a próxima ventania de areia mais preparados.  

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