quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O quati




O quati (Nasua narica) é uma espécie de mamífero carnívoro nativo da América do Sul e  tem hábitos diurnos, o que o torna familiar em alguns lugares, principalmente em parques e condomínios aqui de Canela RS e na região. Seu nome deriva do Tupi cuá (cintura) e tim (nariz) = cuatim ou cuati, e tem relação com o hábito destes animais dormirem com o focinho acomodado na região da cintura, como fazem os cães quando estão com frio. 

Tenho observado alguns lugares em que estes carnívoros são alimentados, ou por ação voluntária de donos de parques ou por ação involuntária quando restos de alimentos são colocados em lixeiras de condomínios e casas próximos a áreas florestadas. Este hábito altera o comportamento destes animais e os tornam dependentes do alimento oferecido, criando vícios que podem levá-los a disputas ferozes entre si e mesmo tornarem-se agressivos com as pessoas. Parques nacionais, como o da Foz do Iguaçu têm problemas com os quatis que “abordam” os turistas em busca de alimento. Eu testemunhei neste parque uma vara de quatis invadirem mesas do restaurante de um hotel, que fica dentro deste parque, derrubando copos, virando e pisoteando pratos atrás de comida, criando pânico entre os clientes.




Melhor é observá-los em seu ambiente natural, onde podemos ver a grande habilidade que eles têm para subirem e descerem árvores de se deslocarem no chão da mata em bando de dezenas de indivíduos. Alimentam-se de frutos, sementes, insetos, aranhas, anfíbios, lagartixas, roedores e filhotes de ave.

No popular, dizer que alguém “está com um quati” significa que a pessoa é preguiçosa, dorme muito. Isto é uma alusão ao hábito que estes animais têm de dormirem várias vezes durante o dia sonos curtos de descanso. Por isso os folgados ganharam a alcunha que até hoje é aplicada. 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O vento e os pinhões


O vento e os pinhões

Você pode estar se perguntando qual a relação entre o vento e os pinhões, sugerida no título da coluna. Pois digo que tem tudo a ver. Explico: a araucária é uma espécie de pinheiro que tem, entre outras características, os sexos separados, ou seja, existem árvores masculinas e árvores femininas. Cada uma tem suas flores e seus gametas. O pinheiro masculino tem uma pinha alongada semelhante a uma banana e se chama mingote. Nela são produzidos os gametas masculinos, o equivalente aos espermatozoides dos animais. O pinheiro feminino tem uma pinha arredondada onde estão as flores com os óvulos. Como estas flores não produzem néctar e não tem pétalas coloridas para atrair insetos como as plantas superiores, elas dependem de um agente externo para “trazer” o gameta do pinheiro masculino e assim fecundar os seus óvulos. Só assim teremos pinhões na próxima safra de outono. Pois este “agente” externo é justamente o vento, que soprando na primavera, faz sacudir os mingotes maduros que espalham os gametas pelo ar numa nuvem de pó amarelo-claro, que caem sobre as flores de árvores femininas fecundando-as.
Esta é uma das razões porque a mata de araucária forma densos agrupamentos de indivíduos em grandes extensões, pois quanto mais próximas as árvores, maior a chance de haver fecundação e produção de sementes, que são os pinhões. Pinheiros fêmeas isolados por grandes distâncias dos machos, não produzem sequer um pinhão. Quando eu cursava Biologia na PUC um amigo me levou a sua casa, em Porto Alegre, para ver uma araucária adulta de uns 50 anos que produzia pinhas grandes mas sem nenhum pinhão, somente falhas (aqueles lâminas achatadas que ficam entre os pinhões da pinha). Aquela araucária havia sido plantada pelo avô dele e era a única no terreno e do bairro. Disse ao meu amigo que ele não teria pinhões a menos que plantasse outras araucárias para ter machos e fêmeas juntos.
Um equívoco relativamente comum é chamar o pinhão de fruto. Na verdade o pinhão é uma semente e os pinheiros, por uma questão evolutiva, não produzem frutos, um atributo exclusivo das plantas superiores, como a goiaba, a jabuticaba ou os ipês. Uma boa safra de pinhões depende de vários fatores ambientais, sendo o vento um dos principais. Salve os ventos da primavera!

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A guabiroba e o gosto da infância




A guabiroba

N
esta época do ano, durante a minha infância aqui em Canela, saíamos atrás de locais previamente conhecidos no Morro da Cruz, aqui no centro da cidade e que, na época, era um mato fechado onde encontrávamos guabirobeiras lotadas de frutos maduros. Conhecíamos a localização exata das árvores em um mapa mental e reconhecíamos cada uma pela sua forma e facilidade para subir. Algumas mais fáceis outras impossíveis. Estas lembranças da infância estão sendo reavivado aqui onde trabalho atualmente, no Ecoparque Sperry, pela existência de inúmeras guabirobeiras que já começam oferecer seus frutos maduros.
Uma das guabirobeiras mais antigas que conheço fica na parte da frente do terreno onde mora minha amiga Cátia Selbach, ali perto da Vila Maggi. É tanta fruta que chega “amarelar” o gramado.  A guabiroba é muito apreciada pelas aves, que a consomem avidamente e, sendo a sementes pequenas e duras o suficiente para resistir aos sucos digestivos, são eliminadas com os excrementos em locais distantes da árvore-mãe. Assim as aves se alimentam da guabiroba e espalham as sementes ao acaso em novos ambientes, garantindo a germinação de algumas novas guabirobeiras.
Lembranças de um passado que agora retornam sob a forma de sabor, aroma e prazer em consumir uma fruta nativa colhida no pé, muito saborosa e de gosto intrigante. Prove uma guabiroba, você vai descobrir um sabor único, peculiar e que jamais será esquecido!